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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

3 de setembro de 2010

 O mês era setembro. Consigo as manhãs de sol, as flores em cor. As calçadas tingidas de rosa. Rosa-flor-de-jambo. O sorriso largo. Como quem desperta entre um samba e o mar. Trazendo a própria Felicidade que o vento forte houvera afastado. Por estes dias aprendi que a Felicidade não bate à porta, não traz uma lista de recomendações, nem números para ligar em caso de emergência. Saí à toa e esbarrei nela. Qual uma estranha criatura, ela me sorriu. Estranhei e segui. Ela veio junto. Não pediu licença, não mandou avisos. Às vezes vinha, às vezes não. De vez em quando telefonava só pra que eu não a esquecesse. Aparecia de repente. E noutro rompante se ia. E nestes dias ela lia umas poesias, me contava histórias do tempo-de-não-sei-quando, falava da beleza do céu. Ela sorria. Tinha vez que ela aparecia mesmo debaixo de chuva e aí ela me convencia que a gripe era uma lenda feia. E quando me via, estava ensopado, sentindo a água no rosto. Porque sim, o céu desabava sobre os homens. E ela me contava que o nome disso era Felicidade. Noutro dia colou-se em meu corpo. Descobriu os caminhos. Tomou-me minh’alma. As ruas abriram-se em sorrisos. E o céu firmou azul-meio-dia. Os pés já não tocavam o chão... A dança tomou os sapatos, as pernas, pés, quadris e braços. E o corpo todo foi tomado. Não me pertencia. Foi aí que aprendi a ser gente. E a Felicidade adentrou minha casa, foi chegando-se pela sala, subindo para o quarto, deitando-se na cama. Sem cerimônia. Sem cuidados. É que Felicidade é dada a ousadias. Tem gente que não entende, e se dana a difamar tão boa menina. Passamos então a deitar e despertar todos os dias. E nessa nossa toda intimidade fui descobrindo os trabalhos que a tal Felicidade me daria. Porque é preciso manter-se disposto. Parar o tempo, um pouco. Olhar as flores, sentir os cheiros, sorrir com o sol. É preciso ver o mar. Ouvir música, aprender a abraçar. Esquecer o medo de gente que na escola nos ensinam a ter. Se dançar, ajuda. E a tarefa mais difícil é aquela coisa de amar. Pois sim, nestes dias aprendi que é mais fácil ser triste. Mas aí a danada da Felicidade já tinha me cativado. E quando ela me faltava, saia pela cidade no seu encalço. Ela não devia ter avisado que Felicidade vicia?! Pois então, cá estou viciado nas meninice da alegria. E assim fui entendendo que valia todo o trabalho. Daí então me dedicava todo tempo a agrada-la. Não a deixava só em casa. Joguei fora a TV. Tudo isso para que a moça de mim não entediasse e fosse buscar sorrisos em outros lares. Até que numa dessas noites a encontrei meio séria. E antes que me assustasse ela falou que este nosso enlace acabaria se a fizesse cativa. Porque Felicidade boa tem que ser repartida, ela certa me dizia. Não teimei, nem duvidei. E desde então perdi as chaves de casa. Deixei as portas abertas. Até que um dia me encantei com a tal Liberdade. Felicidade não tinha ciúme. Não perdia tempo com mesquinharias. E elas se davam bem. Gargalhavam de mim e fofocavam meus defeitos. Também não as reprimia. Fui esquecendo de ter raiva. Nestes tempos emagreci. Perdi uns 10 quilos e me fiz leve. Passava rasteira nos aborrecimentos. E quando não tinha jeito me enfeitava com um sorriso no rosto e meu punha a dançar. São meninas de melindres. Difíceis de conservar junto a si. Mas era tão bom que valia o esforço. E não é que Liberdade foi me ensinando a me voar?! Primeiro uns saltos tímidos, umas quedas, uns braços quebrados. Depois veio o vôo livre. O transmigrar-se, borboletear. Liberdade gostava mesmo de pintar. Passava horas por entre as cores da noite. Cheia de meninices, por vezes se escondia. Só pelo prazer de me ver procura-la. É, elas me testavam. Teve uma vez que as duas passaram uma semana inteirinha fora. Disseram: vamos ver o mar. Também não me preocupei, sabia que voltavam. Tinham feito morada. A casa estava repleta delas. E por isso vivi estes dias, como se as tivesse ao meu lado. Porque carregava seus cheiros comigo. E foi nestes dias de setembro que descobri que as meninas estavam em mim. Tinham-se entranhado em minha carne e para sempre me compunham. Foi assim que nas manhãs de setembro eu desaprendi o que era medo.

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