Sou muito mais as tulipas.

E eu me deslumbrei. Eu sei lá o motivo, mas dessa vez eu prestei mais atenção as cores do florista. As rosas são tão vermelhas, tão comuns, e meus olhos se esqueceram delas. Mas meu Deus, como são lindas as tulipas de uma maneira que eu não sei descrever. Fiquei andando e olhando aquela mistura de tons até que percebi que já estava parada e meu corpo foi magnetizado pelo resto dos meus sentidos. Meus olhos queriam ver mais de perto, minhas mãos queriam tocar a superfície de textura fina e aveluda e minhas narinas inflavam para descobrir seu cheiro. Não custava nada atravessar a rua e eu atravessei sem me opor. Meu Deus, como são lindas as tulipas. “A senhora quer levar qual?” “Não, não. Eu só estou dando uma olhadinha.” Eu continuei olhando para as flores, mas pela minha visão periférica, eu sabia que ele estava sorrindo de um jeito ufano. Nem percebi a minha frase clichê contra vendedores persistentes e continuei decorando as partes mínimas e quase imperceptíveis a olhos comuns e menos curiosos que os meus. Queria ter comprado aquelas flores, mas elas estavam tão bonitas juntas, porque juntas elas formavam aquele tapete de cor e com as minhas moedinhas eu não iria comprar nem metade delas. Não comprei, mas não estava triste por isso. Pelo contrário, aquelas flores e aquelas cores deixaram o meu dia mais perfumado. Eu continuei meu caminho sem pressa e, sabe, eu estava olhando com muito mais fascínio para as pessoas e algumas delas conseguiram irradiar luz como as minhas tulipas.